[Eleições UFMG 2017] A universidade na mídia e as eleições na UFMG

CADEIRA DO REITOR 01

Luciano Mendes de Faria Filho

Até muito recentemente, ao contrário do que fazia com a escola básica, a imprensa apresentava uma muito boa imagem da universidade pública brasileira. Mesmo quando fazia crítica, sobretudo em momentos como os das sucessivas greves que paralisavam as instituições, a justificativa era que isso se dava como uma forma de proteger a universidade.

Bastou a universidade pública se expandir e incluir novos sujeitos que delas estiveram apartados desde sempre – pobres, negros, índios… – para que a defesa se transformasse em suspeição sobre sua qualidade e, em seguida, que a suspeição desse lugar a uma abordagem claramente contrária à manutenção da universidade pública e gratuita.

O mais interessante de se observar é que, como a suspeição não se confirmou, ou seja, os pobres, os negros e os índios não fizeram a qualidade da universidade pública despencar como se temia, a imprensa brasileira de repente descobriu que a universidade pública e gratuita é cara e elitista. Mas, porque logo agora cara pálida?

Suspeito que por trás dessa “nova” abordagem da universidade pública na imprensa brasileira está presente um grande ressentimento e um certo recalque das elites brasileiras com a instituição. Por um lado, o sonho de consumo das famílias de classe média que era manter os filhos na escola particular durante a educação básica para que entrassem na universidade pública começou a ficar mais difícil com as cotas e outros mecanismos de ação afirmativa. O ressentimento que se percebeu contra “os petralhas”, menos por suas atrapalhadas no governo e muito mais por seus acertos, é parte do mesmo problema, acho.

Por outro lado, há indícios que esteja acontecendo agora o retorno daquilo que ocorreu nos anos 70 com a educação básica quando as classes médias abandonaram a escola pública sob a justificativa de que, com a sua massificação, a qualidade despencara. Foi, sem dúvida, uma forma de nossas elites protegeram suas proles da “invasão bárbara” que, segundo seu ponto de vista,  tomou de assalto a escola pública. O problema aqui é que, mesmo que esta “invasão” esteja acontecendo, a qualidade da universidade pública é muito superior às suas congêneres privadas. Nesse caso, o argumento retorna de outra forma: não havendo a justificativa da qualidade para retirar os filhos das universidades públicas, endossa-se simplesmente os argumentos de sua privatização para que elas continuem sendo reduto da parte branca e elitista de nossa diversidade.

Se tais perspectivas são minimanete verdadeiras – e a situação de penúria a que estão sendo levadas as universidade públicas em todo o Brasil sob o argumento de que elas se expandiram demais e desordenadamente, parece indicar que sim – elas cobram das universidades públicas e, sobretudo, de seus dirigentes a capacidade de articular um contradiscurso potente o suficiente para entrar na disputa pelos sentidos do ensino superior gratuito no espaço público.  Mas, obviamente,  não basta elaborar tal discurso. É preciso acionar ou criar mecanismos institucionais para que ele possa ser ouvido pela sociedade brasileira.

A UFMG pode aproveitar esse momento em que se prepara para escolher seus novos dirigentes para dar uma contribuição importante nessa direção.  Para isso, é preciso que as candidaturas que se apresentarão nos próximos dias façam o melhor uso possível do tempo e recursos de que dispõem para organizar o debate e a elaboração de uma política acadêmica que, sem deixar de apontar para suas questões internas, busque lançar uma voz que ultrapasse as suas fronteiras. Não podendo deixar de lado nossas especificidades, há que articular propostas que dialoguem com os grandes desafios que se colocam para o conjunto do sistema público universitário brasileiro.

De outra parte, uma vez eleito, o novo reitorado tem que ter disposição para reassumir o protagonismo da UFMG no cenário acadêmico científico regional e nacional. Certamente que a ameaça que paira sobre o conjunto do sistema e, muito menos,  o confuso e difuso discurso midiático sobre as impossibilidades do ensino superior público e gratuito, não vão poupar a UFMG.  A busca por saídas individualizada da crise não apenas demarcaria uma miopia política, mas uma falta de solidariedade institucional com o conjunto das instituições, seus alunos e servidores TAEs e docentes, e, certamente, com os próprios destinos do país.

No primeiro post que publicamos sobre as eleições dizíamos:

nesse momento, a eleição para Reitor(a) vem testar nossa capacidade de estabelecermos acordos internos e nos unirmos em defesa da UFMG e de um projeto mais inclusivo e mais democrático  e, por isso mesmo, de maior qualidade para a  nossa universidade. Ou seja, a eleição vem exigir que alarguemos nossa capacidade de fazer política e reinventar a instituição. Essa exigência se coloca tanto no que se refere ao processo da disputa quanto na capacidade de elaborarmos políticas acadêmico-científicas à altura da UFMG.

É essa nossa capacidade de fazermos política acadêmica de forma alargada e democrática, focando as especificidades da UFMG, mas sem esquecer os desafios que se colocam para todo o sistema,  que será testada durante as próximas semanas quando, uma vez conhecidas as chapas que disputarão as eleições, suas propostas virão a público para o escrutínio da comunidade universitária.

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